Adolescência e contemporaneidade: efeitos na educação

Estamos assistindo jovens sucumbirem à práticas potencialmente fatais, advindas de uma perspectiva de existir na contemporaneidade apenas pelo que é pautado no aqui e agora. De onde viriam as motivações para usufruir do corpo e mente nesse vazio de reflexão sobre as consequências de tais práticas? Nos parece uma missão impossível educar adolescentes na atualidade, como dirá a pesquisadora Beatriz Gutierra nos seu artigo sobre esse tema. Aos que questionam, afirma-se uma direção que envolve a educação e as modalidades de formar jovens dentro e fora das escolas. A autora explica com conhecimento sobre esse fenômeno:

 

‘Estamos em um tempo de declínio do valor da educação na constituição dos sujeitos, tendo em vista a sociedade de espetáculo na qual vivemos onde o importante é ter fama, sendo o saber, a cultura, quase que dispensáveis para que o jovem estabeleça o laço social e se sinta reconhecido na sociedade.
 
Além disso, a escola e o saber por ela veiculado perdem o valor numa sociedade marcada pelo declínio da imago social paterna.  
Trata-se do declínio daquilo que no social funcionaria como referência simbólica e indicaria a possibilidade de um laço social atrelado às leis, tradições e imagens ideais. Neste sentido não são transmitidos aos jovens as leis que regulariam as relações, e o que se prega, na verdade, é o imperativo do gozo absoluto, não delimitado pela castração simbólica.
 
O ideal maciço transmitido à juventude é aquele que prega a satisfação narcísica. Para se realizar deve-se gozar dos objetos no aqui e agora, sem interdições que lançariam o sujeito num processo desejante. Este imperativo do gozo sob o qual estamos submetidos na modernidade situa a droga, por exemplo, como objeto de puro gozo, com um fim em si mesmo. A violência e as relações afetivas fragilizadas na atualidade denunciam este imperativo, onde na relação com o outro se baseia na usurpação dos objetos e na indiferença. O outro é puro objeto de gozo.”

 

Ela diz ainda de como o adolescente está sendo moldado por um social que almeja o prazer imediato e não vislumbra ideais de futuro, uma substituição dos referenciais e modelos adultos pelos pares:

 

“Os adolescentes são como “antenas parabólicas” captando este discurso e atuando-o prontamente. Os grupos de pares que até então se constituíam enquanto suportes simbólicos de identificação são, na atualidade, aglomerações narcísicas que atuam o excesso de agressividade na relação com o outro.
A escola e seus professores, em sua tentativa de transmissão de ideais (quando realmente assumem sua missão), enfrentam um sujeito adolescente imerso no discurso social que apregoa o gozo em detrimento do processo desejante mediado por ideais. Estamos diante de uma luta inglória…”
 
As práticas de brincadeiras perigosas já foram confirmadas como pesadamente influenciadas pelos pares e um novo posicionamento de educadores em relação aos jovens seria preciso para redirecionar a atenção e motivação do jovem contemporâneo:

 

“O adolescente é visto como: engraçado, criativo, porém necessitando de atenção, esteio e referência de pessoas que possam estar num lugar de orientador (formador). Os adolescentes são encarados, ainda, como capazes de aprender, como detentores de um saber próprio. Possuem uma visão crítica sobre o mundo e são capazes de se responsabilizarem por seus atos e palavras.
 
São professores sensibilizados com as questões da adolescência, e que oferecem espaço para que sejam discutidas durante alguns momentos na sala de aula, sem abdicar de sua função enquanto responsável pela transmissão de conteúdos formais.
A relação destes professores com sua função e com as atividades e conteúdos transmitidos é marcada por uma extrema vivacidade. Estes professores subjetivam o conteúdo transmitido. Transmitem o conteúdo de forma viva, envolvente, pois ele é considerado importante pelo próprio professor. O resultado é a “conquista do aluno” (sic.).
 
Esta relação com o saber e com o ensinar, marcada pelo desejo que a torna viva, parece possibilitar a transmissão de um desejo de saber para os alunos. São professores que produzem uma transferência de trabalho, pois eles estão constantemente a trabalhar, a buscar novas significações. A relação com o ensinar é atravessada pelo aprender constante. Daí ser possível que, os alunos, olhando para um adulto em processo de re-significar e trabalhar com os conteúdos de forma viva, possam fazê-lo também, envolvendo-se com o processo de aprendizagem.”

 
Para ler o artigo na íntegra: http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000082005000200035&script=sci_arttext
 
 

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